NOS TEMPOS DE DITADURA


NOS TEMPOS DA DITADURA

Exemplar da biblioteca da edição do Estado de Sâo Paulo censurada na época da Ditadura. Os alunos puderam entrar em contanto com materiais proibidos na época.

Obra de Antonio Henrique do Amaral


Trabalhamos com aspectos ligados à história do Brasil, fazendo uma incursão desde o "descobrimento", o Brasil colônia, a monarquia até a República. Dentro desta perspectiva, traçamos uma linha de tempo com alguns fatos da República Velha, a Era Vargas, chegando na Ditadura Militar.
Para inserir a família no contexto, os alunos levam para casa uma pauta de entrevista para realizarem com alguém com mais de 60 anos, de preferência, que possa falar sobre os anos 60 e 70 no Brasil. As perguntas giram em torno da moda, música, relação professor-aluno e crianças-pais, programas de TV, grupos musicais e cantores da época, a guerra do Vietnã, a talidomida, etc. Ainda perguntam se o entrevistado era militante político ou se conhecia alguém que o fosse, o chamado milagre brasileiro, as prisões, torturas e exílios. O resultado das entrevistas já foram socializadas, fazendo com que os grupos pudessem traçar um perfil sócio-econômico-político-cultural da época. Algumas ações para driblar os censores, como o uso do sentido figurado também estão sendo trabalhados em algumas músicas ditas de protesto e resistência ao regime.












Realizamos um trabalho com charges, muitas delas da época da Ditadura Militar. Os alunos recriaram algumas.
Por uma questão de espaço, postamos apenas algumas atividades.









Também assistimos ao filme "O ano em que meus pais saíram de férias", que traz uma visão infantil sobre a  época.


Apreciamos obras de Antonio Henrique Amaral, a chamada fase de protesto, em que suas bananas, agora revistidas de um pretume, denunciavam a violência do contexto repressor. Recriaram algumas obras.
        Por uma questão de espaço, postamos apenas algumas atividades.

















Trabalhamos algumas letras de músicas da época na biblioteca que de forma indireta , por meio das letras, criticavam o regime militar dentre elas destacamos  Pra não dizer que não falei  de flores de  Geraldo Vandré




Ainda observaram imagens da época e ficaram sabendo de alguns tipos de tortura utilizadas. Sabem, inclusive, que algumas ossadas ainda buscam identificação, o "suicídio" de Vladimir Herzog, o assassinato de Zuzu Angel e de seu filho, o suicídio do frei Beto, duramente torturado.

Conversa com Ivan Seixas!
Ivan Seixas é apresentado as turmas pelas professoras Fátima e Denise.
As crianças estavam curiosas e fizeram muitas perguntas ao Ivan!
Ele conta aos alunos que foi torturado durante a diatadura.
Os alunos ficaram muito entusiasmados pelo depoimento do Ivan.


 Tivemos a oportunidade de receber na biblioteca para uma palestra com os alunos Ivan Seixas, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condep). Ivan contou aos alunos que foi preso aos 16 anos juntos com o pai e enviados ao DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna), um dos principais orgãos de repressão durante o período militar e lá foram torturados . Ivan Seixas disse que junto com seu pai integrava uma organização de luta armada quando foram presos.
O pai de Ivan morreu devido as agressões e ele ficou preso dos 16 aos 22 anos. Hoje promove ações que possibilitam as pessoas conhecerem dados que foram omitidos pelo governo da época, por meio de sua participação na Comissão da Verdade, cujo objetivo é apurar os atos de violência praticados por agentes públicos durante o período da ditadura militar. Agradecemos ao Ivan o tempo concedido por ele para conversar com os alunos, pois essa interação possibitou a contextualização do que foi trabalhado pelas professora tanto em  sala de aula como   na biblioteca e no laboratório de informática.

Abaixo disponibilizamos partes da conversa que ele teve com nossos alunos, assim como o depoimento que Ivan deu à novela  Amor e Revolução do SBT.











Ainda estamos mantendo correspondência com  a Estação  Memória  da USP sob coordenação da professora Ivete Pieruccini, composto por pessoas cujo desejo é compartilhar e  resgatar as memórias. Muitos não se lembram da época da ditadura e a turma tem escrito cartas contando o que têm aprendido na sala de aula. Outros, com mais vivência, inclusive nas redações com a presença do censor e na militância, provocam questionamentos dos alunos. Muito interessante!!!!!

Abaixo disponibilizamos as cartas que o pessoal do grupo Estação Memória escreveram acerca de suas memórias do período em questão, cada relato traz experiências únicas vividas por esse grupo; por essa razão esse material é tão rico e sólido.

AS CARTAS....
                                  Estação Memória / EMEB KAZUE








São Paulo, 25 de abril de 2012.

Caro amigo (ou amiga)
Lembranças do passado! Quantas afloradas e quantas intencionalmente ou misteriosamente sufocadas, mascaradas, escondidas... E vocês, jovens, a nos pedir nossas memórias... Com que satisfação iniciamos nossa correspondência/diálogo com vocês!
Para ativarmos o que parece escondido no baú das nossas memórias, um bate papo animado num grupo aleatoriamente formado, veio trazendo momentos vividos, frases marcantes, notícias verdadeiras e falsas que alimentaram nosso dia a dia num passado nem tão distante...
Falar em Getúlio Vargas, o conhecido, além de ditador, como o “pai dos pobres”, me trouxe a lembrança do dia de sua morte, em que eu tinha 11 anos, vivendo num internato, e vi as freiras chorando pela grande perda que a nação estava sentindo.
Só muito mais tarde, vivendo num outro período ditatorial a partir do golpe militar de 31 de março, eu já era capaz de ter opiniões sobre os fatos que ocorriam e que eram muitas vezes manipulados pelos detentores do poder e pela imprensa, tanto de direita como de esquerda, que distorciam ou minimizavam os acontecimentos.
Minha relação com militares já era traumática desde a relação com meu pai que também era militar, fazendo parte do que na época se chamava de “guarda-civil. Ele sempre usava uma farda azul-marinho, com seu revólver na cintura e o medo sentido na infância se misturava ao medo da repressão nesse difícil período ditatorial que impedia uma vivência de liberdade.
As canções do Chico Buarque e outros músicos ajudavam a trazer a público o desejo de sentir e dizer, sem ser reprimido. A repressão me trazia os mesmos sentimentos de quando eu tinha que calar a boca, uma ordem bastante comum no meu Colégio.
Trazer essas lembranças à tona e compartilhar com os demais possibilita deixar que um pouco da experiência vivida se mostre com a intensidade que o viver trouxe. E esse diálogo iniciado com vocês, jovens com outras experiências de vida, é muito importante para ambas as partes. É como um encontro entre gerações diferentes, propiciado pela troca de cartas! Isso me deixa muito feliz!

Um grande abraço,
Toninha





Vivi duas ditaduras.
A do Getúlio e a dos Militares de 1964.
Lembro-me de um fato histórico:
Nos anos de 1960, eu trabalhava em grandes organizações industriais internacionais.
Por esta época começou um movimento socialista no país. As Forças Armadas intervieram tomando o Poder da Nação de uma forma Ditatorial. Eu estava muito empenhado no meu trabalho de gerência de indústrias e não participei dos movimentos que então eclodiram.
Qualquer alteração tinha convicção de que saberia contornar.
Como consequência da ditadura militar, fui demitido de meu emprego.
Resolvi então nunca mais ser empregado de carteira assinada, ou seja, não queria – como se dizia – “ser rabo do LEÃO e sim ser uma cabeça de formiga!”, se fosse preciso. Eu preferi ser independente e líder. Assim aconteceu e até os dias de hoje.
Estou feliz assim!

Alberto




Lembranças de 1964
Nos dias 31 de março e 01 de abril de 1964, nós alunos da Escola de Sociologia e Política de São Paulo passeávamos em Brasília para conhecermos a recém-inaugurada capital do País. Ali nada se sabia, a
cidade estava meio deserta... O que acontecia com o país passava-se em Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre.
Os militares queriam que a data de 31 de março marcasse o início do que eles chamam de Revolução Militar Brasileira. Os demais queriam que a data de 1º de abril marcasse o início do Golpe Brasileiro e da Ditadura que se prolongaria até meados de 1980.
De regresso a São Paulo, depois dos feriados, nos inteiramos dos acontecimentos. Em primeiro lugar tivemos que resolver o que fazer. Um grupo queria, inclusive eu, queríamos dar fim a documentos e atas do Centro Acadêmico. Uma delas era uma declaração de apoio ao governo do Jango, sumariamente destituído do cargo de presidente do Brasil.
Foi tudo muito rápido. Em poucos dias percebemos que tínhamos que nos desfazer desses papeis porque já começavam as perseguições. O dilema era: jogar no rio Pinheiros? Queimar? Guardar?...
Estávamos certos que fazíamos a HISTÓRIA do País.
Havia uma efervescência de conhecimentos, estudos, palestras aliada ao entusiasmo da juventude. Íamos a todos os encontros. Tínhamos muito medo de represálias, delações. Tudo era feito com cuidado e com muita atenção.
O período dos festivais de música, com canções maravilhosas, letras engajadas nos davam a impressão que fazíamos a transformação do País...
Anos mais tarde, houve a invasão da USP, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, na Rua Maria Antônia. Do outro lado da calçada, os membros do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), tinha um porto-seguro, na Universidade Mackenzie, em especial na Faculdade de Direito.
O encontro foi violento e acabou acarretando a mudança dos estudantes da USP dali para a Cidade Universitária, no Butantã.
No meio de todos estes processos, as prisões, as torturas, as perseguições, as delações, o Ato Institucional nº 5 (AI5), no dia 13 de dezembro de 1968 atingiam a todos nós.
Implantou-se o Medo, a Desconfiança, a Censura. Tudo isso nos cercava. Minha família começou a pressionar e o medo de me expor me limitava.
Lentamente, eu como muitos outros, fomos nos calando.
A vida seguia em frente, o trabalho, a luta pelo sustento, o casamento, os filhos e tudo aos poucos foi se modificando.

Ângela Donelli



Memórias dos anos 1964 - 1978

Naqueles anos, havia pouco tempo que eu tinha chegado da Itália. Precisamente, em São Paulo. Tudo que se referia aos feitos da ditadura era noticiado com ênfase, mas as opiniões contrárias não eram divulgadas.
No dia a dia do meio em que eu vivia a repressão da ditadura não era muito percebida. Chegava alguma coisa através das músicas dos Festivais da TV Record, das músicas do Chico Buarque, do Caetano Veloso e do Vandré que denunciavam, por meio de suas letras, a verdade política daquele momento.
Sabíamos que entre a juventude havia um movimento contra a repressão, contra a ditadura e a tortura, principalmente praticada contra os jovens estudantes tachados de subversivos.
A minha família e eu tínhamos vivido muitos anos antes o período mais obscuro da história do meu país, a Itália. Foram 20 anos de ditadura com 5 anos de guerra e, portanto, ficávamos muito tristes porque aqui no Brasil também encontramos uma ditadura, com suas sérias consequências...
Por sorte, para a nossa família nada aconteceu, mas ficou claro, mais uma vez, que a ditadura deve ser combatida e rejeitada sempre!

Anna Amato




Eu nasci em 1947, fim da primeira ditadura de Getúlio Vargas, que depois voltou a ser eleito pelo povo e governou até 1954. Mas, eu era pequena e não senti muita diferença na minha vida; a não ser pelo fato de minha irmã se chamar Darcy, por ser o nome da esposa do Getúlio! Quando já era adolescente, lembro-me da eleição de Jânio Quadros e depois sua renúncia em 1961, por eleitores com mais de 18 anos, motivada por “Forças Ocultas”. Que ele não explicou na época, quais eram.
Na minha época de escola, não havia muita manifestação política e nem se ouvia em casa ou na Tevê assuntos políticos, mas em 1967, já havia começado a trabalhar e frequentava grupos de estudo no Cursinho Vestibular “Equipe”, onde eu e meus colegas tomávamos conhecimento de manifestos e livros que mostravam uma realidade muito diferente daquela que aprendíamos pelos jornais, Tevê e rádio. Começaram a acontecer comícios relâmpago onde nos reuníamos para contestar o regime militar que desmontou os partidos políticos, ficando só dois: ARENA e MDB. As pessoas que contestaram o governo começaram a ser presas ou sumiam de um dia para outro.

Berenice


Eu tenho 78 anos e na época da renúncia do Jânio Quadros, Presidente do Brasil, em 1961, morava fora de São Paulo. Depois da renúncia tomou posse o vice-presidente João Goulart (Jango).
Então, os militares implantaram a ditadura.
Com filhos pequenos senti com menos impacto os acontecimentos da renúncia e depois do golpe militar e da ditadura.
Lembro-me de minhas vizinhas “italianas” que tinham passado a guerra na Europa. Elas ficaram com tanto receio das consequências do que estava acontecendo no Brasil, que compraram comida para meses. Esse fato me impressionou muito e passei a ficar mais cautelosa.

Bernadette




Olá, queridos amigos e amigas!
Na época do Golpe, meus pais moravam em Porto Feliz-SP e trabalhavam na roça na condição de boias-frias. Quando se casaram em 1966, vieram para São Paulo e moravam de aluguel na Vila Prudente, depois em Utinga.
Nasci no bairro do Ipiranga, no ano dos Festivais (1967), época em que também morreram Guimarães Rosa e Che Guevara.
Em 1974 fomos morar no Parque São Rafael, periferia da zona leste em uma casa simples, mas que tinha um quintal bom para brincar. De 1975 a 1982 vivi o que chamo de “educação cívica eficiente”. Fomos formados segundo um padrão de pouca ou quase nenhuma crítica social, mas cuja eficácia e eficiência repousavam na compreensão oca e vazia de conteúdos que não tinham vínculo com a prática cotidiana. Após as avaliações de praxe, era comum esquecer a temática decorada à exaustão para dispensá-la em seguida.
A consciência crítica sobre os “anos de chumbo” floresceu com a participação em grupos comunitários: grêmio estudantil, pastoral da juventude e teologia da libertação, aliada à leitura de obras como “Batismo de sangue” (Frei Beto) e  “Campeões do Mundo” (Dias Gomes). Nos anos 1980 envolvi-me com sindicalistas e operários do ABC que moravam em nosso bairro e fundamos o Núcleo do PT no Parque São Rafael. Participei ativamente das Diretas Já! (1984) e dos movimentos sociais da Zona Leste.
A partir de janeiro de 1986, ingressei na Pontifícia Universidade Católica SP, para estudar Ciências Sociais (1986-1987); depois estudei Filosofia na FAI, Faculdades Associadas do Ipiranga (1988); finalmente ingressei na Universidade de São Paulo (FFLCH, 1989-1992; 1997-2003 e ECA, 2004-2012).
Mesmo a Ditadura tendo “acabado”, após 20 longos anos, lembro-me de um fato que marcou a minha passagem pela PUC, entre 1986 e 1987: nesse período vivi experiência de repressão bem próxima de mim, quando nós estudantes exibíamos na rampa do pátio da PUC, o filme polêmico de Jean-
Luc Godard, “Je vous salue, Marie”; pouco tempo depois o prédio foi invadido por truculentos policiais à paisana, que distribuíram pontapés e socos, eles subtraíram a fita cassete, houve 1 tiro na Rua Ministro de Godoy e muita gritaria. Muita gente apanhou de graça. Ninguém sabe se a mando da Igreja ou do Estado.
Se não houvesse resistência, não teríamos uma Constituinte Cidadã (1988) e nem teríamos conquistado nossos direitos fundamentais (Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do Adolescente, Igualdade Racial etc.).
Um poeta já disse: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena!

Um forte abraço do amigo,
Edison


Apesar de muitos chamarem Getúlio Vargas de o “Pai dos Pobres”, devido ao fato dele, durante o seu governo, proteger o proletariado, ao ser o primeiro presidente a introduzir leis trabalhistas no país; criar Justiça do Trabalho, instituir o salário mínimo, a carteira profissional e férias remuneradas, criar a Companhia Siderúrgica Nacional e a Vale do Rio Doce, pessoalmente, minhas experiências foram péssimas, por ele ser um tirano, antissemita. Vivenciei muitas coisas ruins neste período, sobretudo por ser judia.
Os anos foram passando e a história do Brasil veio por altos e baixos até chegarmos ao fatídico 31/03/64.
Neste dia, o meu marido teve um infarto devido ao medo do golpe. Lembro-me dele chegando em casa, carregado por amigos, que o encontraram caído na rua. Perto de onde morávamos havia médicos judeus, entre eles um cardiologista que o atendeu.
Era necessário fazer um eletrocardiograma, num tempo estipulado, que não me recordo agora qual era. Meu marido não queria ir ao hospital e os próprios médicos também não, porque ainda não se sabia o desfecho do golpe.
O médico conhecia um técnico que tinham um aparelho portátil para fazer o eletro, mas ele só viria se alguém fosse buscá-lo. Meus cunhados não queriam ir, assim me lembro de deixar maus filhos com uma vizinha, meu marido com a irmã e ir buscar o técnico. Este técnico morava em Santana e eu nos Campos Elíseos. O trajeto passava pela Avenida Tiradentes, onde por quatro vezes passei entre caminhões
cheios de soldados, tanques e todo um aparato de guerra. Estes esperavam por uma ordem de Belo Horizonte, para se movimentarem o que nunca aconteceu...

Esther



Minha memória da ditadura é comparada a um elevador: sobe e desce.
Então: na época do golpe militar de 1964, eu trabalhava na Editora Abril.
Lá, como se fosse sua residência fixa, convivíamos com um FISCAL LITERÁRIO, ou seja, um CENSOR.
Era um cara de rosto HERMETICAMENTE fechado. Ele ficava de plantão para vigiar a produção e eliminava todos os artigos escritos por jornalistas sobre política ou crítica ao regime vigente. O processo era o seguinte: o “boneco” da revista era elaborado a priori pelo diretor da redação, ou seja, era uma revista pré-moldada com anúncios da publicidade e artigos jornalísticos.
O censor olhava, examinava os artigos e com a tesoura cortava o que ele achava inconveniente. Quando a revista ia para a impressora colocávamos receita culinária nos artigos que o CARETA CENSOR tinha cortado.
Assim, a revista praticamente continha mais receita que artigos da redação.
Tenho dito!

Giovanni


 A ditadura militar de 1964 na minha vida pessoal

Na época da ditadura eu era adolescente. Vivia os meus 15 anos, despreocupada de assuntos políticos. Esses assuntos não eram comentados em minha casa. Eu era filha única e a educação era rígida,
principalmente por parte de meu pai. Para mim, foi quase devastadora...
Ele só me deixava ir ao cinema com minha mãe. Também não podia conversar com nenhum coleguinha da escola, nem sair com uma amiga.
Nem mesmo para ir a festas de aniversário!
Eu estudava no Ginásio Princesa Isabel em Moema. Lembro-me bem do bonde sem portas que eu usava para ir aos passeios autorizados pelo meu pai. Nessa época estava na moda a minissaia. Eu achava linda!
Mas, eu mesma só usava saias muito rodadas e abaixo do joelho, por imposição do meu pai.
Para ir à escola, no ginásio, eu usava um lindo uniforme azul marinho com saia plissada, blusa branca, meia soquete e um sapato preto fechado. Era obrigatório ir uniformizada à escola. Nessa época, as
escolas também eram rígidas. Havia muitas normas que tínhamos que acatar. Tive um professor de LATIM que me fez “repetir de ano”, somente por um ponto! Jamais esqueci...

Irma Chaves



Chorei, chorei muito.
Foram tantas lágrimas... Lágrimas pelas comunidades de base, pelas pastorais, pela JUC, pela JOC, pelas ligas camponesas... Assisti, com o coração partido, a minha, a nossa AÇÃO CATÓLICA e parte da igreja, de mãos atadas.
Atônica, sem acreditar, soube da prisão de um Frei Dominicano meu vizinho... O colégio onde ele lecionava ficava próximo a minha casa. Mais tarde, soube que ele foi torturado até a loucura e anos depois se suicidou fora do país onde vivia exilado.
Vivi as mortes de Marighela e Lamarca. Líderes das ligas camponesas.
Assisti também, com muita angústia, à invasão do Palácio do Governo em Pernambuco e a prisão do Governador Miguel Arraes...
CHEGA! Não quero lembrar mais nada! Estou chorando.
Vamos falar de Esperança. Era o que eu fazia quando estava muito triste. Eu ia até a banca de jornais e comprava O PASQUIM, que não deixava a fogueira das paixões se extinguir.
Que saudades! ZIRALDO, ZÓZIMO, MILLOR e outros jornalistas corajosos, que alimentaram a minha/a nossa esperança. E, para resgatar esse tempo, presto essa singela homenagem a todos os grandes brasileiros que foram exilados, outros torturados e muitos mortos, pelo ideal de justiça social: humanistas, socialistas, chamados injustamente de comunistas... Como se comunistas fossem criminosos! Teria muito, muito mesmo, o que contar.
Afinal foram vinte anos!
Espero, com muita força, que tudo o que vivemos nunca mais aconteça. Que todos tenham oportunidade de trabalho, igualdade, liberdade, enfim justiça social. Viva o Brasil, com DEMOCRACIA, para mim, o melhor país do mundo!
E para encerrar, uma música que eu cantei, cantei, cantei. Chama-se Canto Livre e foi escrita na época da Ditadura brasileira, por Billy Blanco que a compôs, assim que saiu de uma temporada na prisão, no Forte de Copacabana.

Canto Livre
O meu compromisso; com sinceridade; é fazer meu povo
sorrir outra vez e melhor que isso;/ Só se for verdade no
mais, tanto faz, como tanto fez; / Canta! Sempre serás feliz
quando cantares e dentre as coisas pelas quais lutares o canto
puro e simples não esquece numa prisão na igreja ou na rua;
Uma canção tem força de uma prece / Não haverá no mundo
quem destrua; Morre um cantor e o canto permanece /
Canta! Mesmo cativo, o pássaro não liga; prendem o seu
corpo, não sua cantiga; seu canto é livre o vento e um cantor
não para, só morrendo, mas a canção revive sua memória; e
ele renasce a cada momento; porque seu canto faz parte da
sua História.

Ivanise Marchesano



O golpe militar de 1964
Eu havia terminado o curso de jornalismo na Cásper Líbero. Na época, esse curso era subvencionado pela Fundação do jornal “A Gazeta”. No dia 31 de março de 1964 aconteceu o golpe militar. Eu me lembro que falavam muito: “E agora, os militares tomaram o poder... o que será que vai acontecer?”
Na faculdade, não participei da militância política, mas tive colegas que faziam parte do movimento esquerdista. Eles se reuniam, iam às salas de aula para mobilizar os colegas e tentar que outros ingressassem no movimento. Soube, mais tarde, que sofreram torturas.
Nessa época, fui trabalhar na Revista Manchete, sucursal de São Paulo. A revista era editada no Rio de Janeiro e de propriedade da família Bloch. Salomão Schwartzman chegou como chefe de redação e até hoje está atuando como grande jornalista que sempre foi. Agora, ele está idoso, mas lúcido.
Também tínhamos conhecimento que artigos publicados pela revista passavam pela censura prévia do governo. Tudo era velado e falado “à meia boca”.
Em casa, sentíamos desconforto, pois morávamos próximos à Praça Marechal Deodoro, no bairro de Santa Cecília, na região central da cidade. Lá, a cavalaria, isto é, policiais a cavalo iam e vinham fazendo o patrulhamento. Eles também garantiam a segurança da Rádio Nacional que ficava logo ali perto, na
Rua das Palmeiras.
Nesses anos de chumbo, com a ditadura militar, minha vida transcorreu “normalmente”. Parecia que nada abalava o curso normal da vida: família, amizades, trabalho, bailes, harmonia, enfim...

Ivone, São Paulo, outono de 2012

Meus caros!
O projeto de falar sobre a ditadura ou “anos de chumbo” me faz voltar no tempo e me sentir novamente uma estudante.
Em 1964, eu estava no 2º ano da escola normal ou magistério como chamam hoje. A minha escola apesar de ser de freiras tinha uma linha pedagógica bem aberta e ousada. A escola pertencia à ordem religiosa das
dominicanas. Os padres e freiras desta ordem foram taxados pelos militares como revolucionários.
Lembro-me que certa vez a nossa classe foi dividida em cinco grupos de seis alunos e cada grupo deveria fazer um seminário. O nosso tema foi a ONU (Organização das Nações Unidas). Preparamos, estudamos, dividimos o que cada uma iria falar. Decepção... No dia marcado a professora cancelou o nosso trabalho. Sabem por quê? Porque poderíamos transmitir ideias subversivas e quem sabe ali na nossa sala teria até alguma aluna com comportamento ativista. Pior ainda: algum “dedo duro”.
Pura inocência de quem assim julgou! Estávamos muito mais preocupadas com os festivais de música da Tevê Record. Os festivais eram para nós tema do dia. Dali, surgiram grandes compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e tantos outros!
Uma coisa no período da ditadura me fez rir muito. Mamãe adorava experimentar receitas culinárias. No jornal que comprávamos –Jornal da Tarde – saiu uma receita de torta de palmito muito mal elaborada: ia um quilo de sal! Provavelmente esta “salina” saiu no lugar de alguma  reportagem censurada. Pois é, a censura da época era tremenda! Qualquer manifestação de arte tinha algo de crítica ao regime ditatorial.
Lembro-me também que uma tia minha, que morava no bairro da Aclimação, tinha como vizinha do lado, uma senhora, mãe de dois filhos estudantes universitários. Na casa destes jovens se juntavam outros
estudantes. Conta a titia que em uma das reuniões parou um carro com homens estranhos que invadiram a casa. Foi um corre-corre da moçada
pulando o muro da vizinhança – para poder escapar e se esconder. Isto gerou em mim um enorme medo. Ninguém sabia explicar por que os dois jovens universitários tinham desaparecido.
Em 1973, já casada, acordei certa manhã com muito barulho de sirenes e tiros. Parecia um bombardeio. Sabem o que aconteceu? A polícia havia capturado e matado dois líderes revolucionários em uma casa no Alto da Lapa, na Rua Pio XI. As pessoas depois comentaram que aquela casa era um “aparelho”, nome dado aos locais onde se realizavam reuniões contra a ditadura.
Jamais colei no meu carro o adesivo com a frase “Brasil”! Ame-o ou Deixe- o! Acho que esta época foi cheia de emoções e sentimentos pátrios aflorados, mas também de muitos medos e lágrimas.
Vamos curtir a época de hoje com liberdade e dando asas a nossa criatividade. Salve a Democracia e a nossa conscientização.

Lenita Verri
Maio de 2012



Chamo-me Maria Ângela Furtado; nasci em São Simão, no ano de 1950. Sou filha de casal lavrador com quem aprendi só a trabalhar e ser honesta, mas não havia incentivo para estudar.
No contexto da ditadura militar, especificamente no ano de 1964, estava ausente do fato corrente do momento, embora sofresse as consequências deste período, como financeira.
Aos 22 anos vim para cidade de São Paulo a fim de reestruturar:  trabalhar e estudar: Aí comecei a perceber um estranhamento sobre a ditadura, as manifestações...

Maria Ângela Furtado





 Para mim, o tempo da Ditadura não me afetou. Na ocasião eu trabalhava em uma escola ensinando alunos de pré-primário. Vida pacata, não sabia nada de Política.
Ouvia as músicas e aprendia as letras, mas ingenuamente. Hoje sei o significado nas entrelinhas. Tinham duplo sentido, para não despertar suspeitas: queriam dizer do total das revoltas, de injustiças, de lutas, tudo mais.
Agora eu sei de tudo que houve: perseguições, cárcere privado, torturas que me fazem sofrer. Do desaparecimento de pais de família, gente que lutava por um  ideal e não puderam alcançar o objetivo.
Na ocasião também não lia jornais, por isso não me inteirava dos acontecimentos, era somente Dona de Casa, preocupada com os afazeres do lar, sem partilhar com meu marido, que estava por dentro.
Aos 72 anos eu faço cursos, ouço palestras, aproveito a oportunidade de conhecer mais, inteirar-me da vida com consciência social e política que naquele tempo não via necessidade. Meus filhos me apoiam, incentivando para que eu busque mais cultura, para optar, partilhar, promover e perseverar sempre.

Maria Apparecida Lopes





Que luta!!
Nos anos de chumbo eu, recém-chegada a São Paulo, deslumbrada vinha para a capital em busca da realização do meu grande sonho: ES-TU-DAR! E vinha de Escola Pública do interior de São Paulo: Monte Alto.
Queria porque queria fazer Letras. E na USP... da Rua Maria Antônia. Face a face com o Mackenzie. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP era de esquerda e o Mackenzie de direita.
Estudava muito no Cursinho Equipe da Rua Martinico Prado, travessa da Avenida Angélica. E era substituta na Escola Pública de 1º grau no Bom Retiro.
Era alienada? Era ativista política?
Sei dizer que o meu sonho me trouxe longe. Atravessei os “Anos de Chumbo” lutando como pude. Vivi a utopia na educação, como professora. Tive muito medo, mas felizmente não fiquei paralisada...

Maria da Penha Cetira
28/março/2012


Minhas Lembranças da Ditadura
Pra mim, a ditadura traz lembranças de muita pressão, muita luta e muito sofrimento. Vivi duas experiências difíceis na época; uma delas foi quando eu trabalhava como Assistente de Direção numa Escola, em São Paulo.
Lá havia uma Diretora muito autoritária – de “direita” – e contra ela o grupo de professores e alunos acabou se rebelando. Eu então, me envolvi defendendo esses jovens, o que foi bastante difícil e sofrido! No final do ano, tive que “entregar” o cargo, mudando-me para outra Escola. Na segunda experiência, o meu  envolvimento foi do tipo afetivo-familiar, pois meu cunhado e cunhada participavam ativamente contra a “Repressão”; eles tiveram que “sair” do nosso país, deixando aqui os filhos por um tempo e foram para o Chile. Lá tiveram também tristes e duros momentos da Ditadura!
A primeira experiência traz-me fortes lembranças de LUTA e MUITA CORAGEM – mais do que medo, porque eu sentia que ali estava pra ajudar os alunos e professores. Ao lado disso, havia também a IMPOTÊNCIA diante do poder que nos envolvia. Já no caso da minha família, os maiores sentimentos
foram de PREOCUPAÇÃO e MEDO; medo que eu tinha de perder aquelas pessoas queridas!
Todas são experiências difíceis de relembrar, mas muito importantes na minha vida!

Zezé



Em maio de 1968, eu fazia parte do cursinho para Vestibular “Equipe” que ficava no bairro de Santa Cecília.
Fazia cursinho para Psicologia e além de estudar bastante, líamos “O Capital” de Karl Marx escondido. Com uns amigos discutíamos a questão social e política do país. Achávamos que iríamos mudar o mundo.
Minha família era muito preocupada pelo fato que se ameaçava as pessoas envolvidas. Mas era muito bom o fato de que tínhamos muita garra, estudávamos, discutíamos filmes depois de assisti-los. O momento cultural era muito rico. As músicas eram mensagens politizadas assim como as peças de teatro.
Eu fazia curso de teatro numa travessa da Avenida Paulista e ia do Bom Retiro até lá a pé, pois era comum esse modo de se locomover.
Sinto muita saudade da garra e energia que eu sentia.

Sandra Lia
Maio 2012



Queridos Jovens

Através desta carta, quero relatar a vocês como foram para nós: eu, meu marido e nossos cinco filhos, o período da ditadura militar das décadas de 1960 e 70.
Nessa época, meus filhos eram crianças e adolescentes. Morávamos no bairro do Alto da Lapa, em São Paulo. Tínhamos muitos amigos, vizinhos, casais com os filhos mais ou menos da mesma idade que os nossos: entre 7 e 14 anos.
Pertencíamos a uma equipe de casais do movimento Familiar Cristão. Este movimento era da Igreja Católica, mas recebia casais de outros credos também. Nós nos reuníamos, uma vez por mês, em casa de um dos casais. Deixamos de nos reunir no salão paroquial da igreja porque era perigoso!
Nas reuniões, tínhamos um diretor espiritual, um padre, e seguíamos um temário. Os temas eram sobre relacionamentos familiares e educação dos filhos.
Isso nos unia muito porque todos nós estávamos vivendo momentos difíceis em nosso país. Precisávamos de muita orientação espiritual, política e, sobretudo, “paternidade responsável”, para nos orientarmos e orientarmos nossos filhos menores e também os maiores.
A nossa orientação não era no sentido de nos alienarmos do que estava acontecendo no país. Mas, no sentido de tomarmos consciência e termos cautela porque, na verdade, estávamos entre duas correntes políticas: a direita (o poder militar) e a esquerda (a oposição). Sem clareza, poderiam ser perigosas, pois
ambas disputavam o poder...
O nosso lema era: nem direita e nem esquerda, mas, para frente, e para o alto!
Queríamos formar nossos filhos para serem cidadãos conscientes de seus deveres políticos e morais, para estudarem muito e serem responsáveis pelos seus atos.
Educar para a liberdade com responsabilidade, sempre!
Bem mais tarde, já em 1980, participamos com eles da passeata pelas diretas já! Os mais velhos já eram adultos e estavam formados.
Graças a Deus ninguém da nossa família foi preso ou torturado!
Temos muita pena do que aconteceu com muitos. Os arquivos permanecem trancados...!
Então jovens, era isso que eu queria passar para vocês.
Estudem sempre! E sejam responsáveis pelos seus atos.

Therezinha Telles de Barros
São Paulo, abril de 2012



Eu Mariano, feliz por pertencer ao Grupo Estação Memória, e mais feliz por ter saúde e muita felicidade até hoje, aos 92 anos.
Tudo foi muito bom.
Fui casado por 3 (três) vezes... Felizes também, e tenho hoje uma namorada! Que me fez o HOMEM
MAIS FELIZ do mundo.
Tenho dito!
Nada mais a declarar.

VIVA A VIDA




 
 
 
 
Os alunos das 4ªséries junto com a professora Fátima socializaram estas cartas enviadas pelo pessoal do Estação Memórias , e redigiram cartas endereçadas a cada um dos participantes do Estação com perguntas, dúvidas e dicas para o grupo da profª Ivete !




AS CARTAS DOS ALUNOS...
                              EMEB KAZUE / ESTAÇÃO MEMÓRIA


 
                       
 Edison Luís dos Santos



           
             Olá, Edison. Tudo bem? Nós queremos saber se você foi torturado ou preso pelos militares na época da Ditadura. Teve amigos torturados? Em que ano, mais ou menos?
            Deve ter sido horrível! Tinha medo das ações dos militares? Você participou das passeatas? Estamos estudando um pouco sobre a Ditadura. Conhece algumas músicas de protesto?, Como as de Vandré e Chico Buarque? Você se lembra de como agia a imprensa naqueles tempos?
            Como eram esses encontros no grêmio/  O que vocês discutiam?
            Por que você acha importante lembrar do tempo da Ditadura?
            Conte um pouco sobre as aulas de Educação moral e Cívica que você tinha na época. Como eram os professores mais linha dura? Teve professores mais engajados com a resistência?
            Esperamos sua resposta. Tchau. Beijos.
                                                                        Júlia Pereira, Marcella e Victória



                               
  Maria Angela Furtado

            Querida senhora Maria Ângela, gostamos de saber um pouco da sua vida. Gostaríamos de perguntar-lhe  mais algumas coisas.
            A senhora gostava das músicas daquela época? O que ouvia?
            Algum conhecido seu foi preso ou torturado? Havia militares na sua família?
            Aqui na escola aprendemos um pouco sobre a Ditadura Militar.
            Por exemplo, nos jornais, o censor cortava as notícias que falavam mal dos militares e, no lugar colocavam receitas culinárias que nem sempre davam certo. Dessa forma, as pessoas que liam o jornal sabiam que havia algo errado ali.
            As músicas de protesto contra a Ditadura tinham um segredo: os autores usavam o sentido figurado para falar de liberdade de expressão e chamar as pessoas à luta.
            Havia muitas formas de tortura: choques, espancamentos.
            Para saber mais sobre a época há bons filmes nacionais: Pra frente Brasil, O ano em que meus pais saíram de férias, Batismo de sangue, Lamarca.
            Um grande abraço. Esperamos sua resposta.
                                                                            Gabryel, Gabrielle, Giovana e Júlia Ferreira



Therezinha Lellis de Barros


Querida senhora Therezinha, obrigada por nos mandar essa carta. Ficamos muito agradecidos.
            Queríamos fazer algumas perguntas. Na carta, a senhora disse que pararam de se reunir no salão da igreja porque era perigoso. O que poderia acontecer? Do que tinham medo? O que a polícia poderia fazer com as pessoas lá reunidas?
            Quando acabou a ditadura, vocês comemoraram? Como? O que a senhora sentiu quando o regime militar chegou ao fim?
            A senhora teve algum amigo torturado ou morto naquela época? Sente saudades de alguma coisa? Do quê?
            O que a senhora falava para seus filhos menores sobre a ditadura militar? Como os orientava sobre o que estava acontecendo? Na carta, também diz que em 1980 fizeram algumas passeatas contra  a ditadura. A senhora participou de alguma?
            Até logo, esperamos sua resposta.
            Beijos de todos. Tchau.
                                               Élson, Kaio e Yasmim

 
 
Mariano Giffoni

 

 
Olá, senhor Mariano, obrigada pela carta que escreveu. O senhor diz que não se lembra de muita coisa sobre a Ditadura Militar no Brasil.

            Aprendemos algumas coisas e vamos compartilhar com o senhor. Naquela época havia muita violência, mas a maioria do povo, envolvida com a Copa do mundo, as montadoras estrangeiras e um crescimento econômico nem ficou sabendo. Muitas pessoas desaparecram, foram torturadas ou mortas pelo governo.

            Para passar desapercebidas da censura, que cortava tudo o que não interessava aos militares, muitos autores faziam uso do sentido figurado nas canções. Também vimos quadros tratando da censura da época, das torturas e da violência, como as obras de Antonio Henrique Amaral.

            O senhor sente falta daquela época? Do quê? Sugerimos alguns filmes que falam da Ditadura: O ano em que meus pais saíram de férias, Lamarca, Batismo de sangue, Pra frente Brasil.

            Adoramos sua carta, obrigada pela sua atenção. Tchau

Luiz Diego e Anna

 

Berenice Moreira Prates Bizarro

 
 
Olá, dona Berenice, gostamos de sua carta. Admiramos os relatos que a senhora fez sobre a ditadura. Por favor, gostaríamos de saber mais algumas coisas.

            Lembra-se de como eram as torturas naquela época?

            Alguém da sua família ou amigos desapareceram, foram torturados ou mortos? A senhora ouviu falar da Dilma Rousseff naquela época?

            Como eram os encontros no cursinho? Do que falavam? Não tinham medo de algum dedo-duro?

            Obrigado!!!!!!!!!

Maria Eduarda, Vinícius Y. e Rafael
 
 
 
 
 
 


Alberto Siuffi

 
 

Olá, senhor Alberto!!! Adoramos a sua carta. Apesar do tempo ter passado, o senhor é muito bonito.

            Nos interessamos muito pelo fato de ter vivido duas ditaduras. Então, faremos algumas perguntinhas para o senhor:

            Quantos anos o senhor tinha na época da ditadura Vargas? O que lembra da época? Conte coisas positivas e negativas daquela ditadura.  

            Dá para comparar a ditadura Vargas com a Ditadura Militar?

            Por que o senhor disse que a ditadura militar provocou sua demissão?

Um grande abraço.

Larissa e Carina
 
 

Sandra Lia de Azevedo Massavelli

 
 

Querida Sandra, ficamos impressionados com sua carta. Queríamos saber mais algumas coisas.

            A senhora disse que fazia cursinho para Psicologia. Era legal? O que aprendia? Falavam de política? O quê?

            Como era ler Marx escondido? Não tinha medo? Sua família sabia? Como eles te orientavam?

            Das músicas de protesto, qual guarda na lembrança?  A senhora contou que fazia teatro. Muitos atores foram perseguidos. Como eram essas aulas? Como era representar em tempos de repressão?

            Achavam que iam mudar o mundo. Que mensagem a senhora pode nos deixar?

            Amamos saber um pouco sobre sua história, aprender como era nosso país. Um beijão.

Felipe, Antonio, Letícia e Carina

 
 
Irma Chaves

 

 

Querida senhora Irma, gostaríamos de saber algumas coisas sobre  a ditadura.

            Para a senhora, qual a diferença entre a educação daquela época e a de hoje? Fale de pontos positivos e negativos.

            Teve amigos que participaram de passeatas contra a ditadura? Assistia aos festivais de música da Record e da Globo? Que músicas se lembra?

            Como eram seus professores? Algum falava de política?

            Como ficou sabendo as coisas que aconteceram naquela época, e que a maioria do povo desconhecia?

 

Obrigada pela atenção

Giovana, Gabrielle e Élson
 
 
 
 
 

Lenita Verri

 
 
 
 

Querida Lenita, amamos sua carta, adoramos saber sobre sua vida.           

            A senhora teve medo de ser confundida como alguém contra a ditadura?

            Lembra-se dos festivais da canção? Lembra de alguma música em especial?

            Que músicas do Chico Buarque costumava ouvir?

            Era comum os censores cortarem notícias e, no lugar, o jornal colocar receitas culinárias? Como as pessoas que liam o jornal reagiam a isso?

            Algum colega foi torturado ou morto?

            Havia algum dedo-duro onde estudava?

            Como a ordem dominicana reagiu com a tortura e prisão de muitos freis? A senhora já leu o livro Batismo de sangue?

Aguardamos sua resposta. Obrigada pela atenção.

Larissa e Carina

 

 




Maria da Penha Cetira

Olá, senhora Maria, estamos escrevendo esta carta para lhe fazer algumas perguntas.

            Sua família falava sobre a ditadura? Te dava algum conselho de como se comportar ou o que falar?

            Teve medo do que se passava? Lembra-se de algum confronto de ideias entre a USP e o Mackenzie?

            Como professora, falava das coisas que aconteciam no país ou tinha receio?

            Participou de passeatas ou reuniões de estudantes? Alguém que conhece ou conheceu foi preso, torturado ou morto?

Obrigado pela atenção

 

João Felipe e Dienifer

 
 
 

Maria José Leite de Souza (Zezé)
 
 

Querida Zezé, nós lemos sua carta e gostamos muito. Também ficamos surpresas com o que contou sobre a ditadura.

            Ficamos emocionadas quando fala das lembranças de pressão, de muito sofrimento e da sua diretora muito autoritária.

            Ficamos curiosas para saber mais detalhes sobre o episódio do exílio de seu cunhado e cunhada. Como isso aconteceu? Como ficaram sabendo? O que falaram para s crianças? Vocês se comunicaram com eles no exílio? Como? Eles contaram como foi a vida deles fora de seu país?

            Aguardamos ansiosas sua resposta. Para nós foi muito legal seu relato sobre a ditadura.

Bruna Parente, Rayssa, Gabriela e Loyanne
 
 
 
 


Maria Apparecida Lopes





Querida dona Maria, adoramos sua carta. Durante as aulas de História ficamos sabendo que muitas pessoas não sabiam o que acontecia no país na época da ditadura militar.

            Como a senhora se sentiu ao saber das coisas que aconteciam naquele tempo?

            Por que o interesse de saber mais sobre o regime militar?

            O que a senhora aprendeu que pode contar para a gente?

            A senhora gostava dos alunos do pré-primário? Gostava de dar aulas?

Beijos.

Aguardamos sua resposta.

Giovanna, Júlia e Rafaella

 

 
 
 

 

Anna M. Amato Nardelli





            Querida Anna, lemos sua carta e queremos perguntar algumas coisas. Como foi sua viagem para o Brasil? O que esperava encontrar aqui?

            Que lembranças tem da ditadura na Itália? Foi decepcionante saber que o Brasil também vivia uma ditadura?

            A senhora conta essas histórias para seus netos?

            Abraços, esperamos sua resposta.

Roberta, Lucas e Heitor

 



Bernadette Costa

 

 
         Oi, querida Bernadette. Adoramos ler sua carta, aprendemos coisas novas sobre a ditadura, assim como podemos mostrar à senhora coisas que talvez ainda não saiba, como por exemplo o fato do censor cortar notícias e o jornal colocar no lugar receitas culinárias.

            Teve medo das coisas que aconteciam na época?

            Como ficava sabendo das coisas que os militares faziam?

            Assistia aos festivais de música? Que música se lembra da época?

            O que a senhora dizia a seus filhos sobre a ditadura?

            Beijos de seus novos amigos

 

Andressa, Leonardo e Viviane

 

 



 

Ivone Judith Mussolini de Oliveira




Querida Ivone, ficamos muito interessados na sua carta. E também impressionados pela senhora ter sobrevivido em uma época tão dura.

            A senhora sentiu medo quando os militares tomaram o poder?

            Como era o trabalho dos censores? O leitor ficava sabendo sobre o que acontecia nas redações?

            O que sua família dizia sobre a política?

            Teve algum amigo preso, torturado ou morto? Como funcionava esse movimento esquerdista? O que faziam?

            Chegou a ver policiais investindo contra alguém?

            Como era a rotina da Cásper Líbero em um curso que ensinava a pensar? Como agiam  os professores diante da repressão?

Aguardamos sua resposta.

 

Felipe,. Élvio e Júlio

 

 

Antonia de Souza Verdini (Toninha)




           Querida Toninha, a senhora se lembra da época em que era criança? Na sua carta a senhora fala sobre a ditadura de Getúlio Vargas. A senhora se lembra de alguma coisa sobre ele?

            Quantos anos tinha na época da ditadura militar? O que sentiu quando os militares tomaram o poder? O fim da ditadura lhe trouxe que sentimento?

            Como era a escola na época? Era repressora? O que ensinavam? Falavam da ditadura? Teve amigos ou conhecidos que foram presos, sofreram tortura ou desapareceram? Seus pais falavam de política com a senhora?

            Alguma música de protesto em especial ficou gravada na sua memória?

            Aguardamos sua resposta.

 

Dos amigos

Leonardo, Bruna Carelli e Giulia

 

 


 

 

Ângela Bernardini Donelli


 

           Querida Ângela,adoramos sua carta. A senhora parece saber bastante sobre a época da ditadura. A senhora se lembra de quando Jango deixou o poder? Que papéis eram jogados que a senhora cita na carta?
            Que músicas dos festivais gostava de ouvir? Teve medo das coisas que aconteciam? Como ficava sabendo?

            Quantos anos tinha na época? O que fazia pra  se divertir?  Conhece alguém que tenha sido torturado? Por que muitas pessoas acham que aquela época era legal?

            Seus pais falavam de política? Como agia a censura?

 

Agradecemos sua atenção.

Thaís, Lucas e Beatriz

 

 
 

Ivanise Marchesano


 

           Gostamos muito da sua história. Quando lemos percebemos eu aquela época não foi fácil. Os jornais falavam das torturas?

            Sentiu medo? Como ficou sabendo da morte do frei Beto? O pasquim era perseguido pelo governo? É verdade que chegavam a queimar as bancas que vendiam esse jornal?

            O que lembra de Marighela e Lamarca?

Grande abraço

Pedro Aurélio e Matheus

 



Giovanni Marino



            Querido Giovanni, lemos sua carta e gostamos muito.

            Como era feita a censura na época da ditadura?

            Como o fiscal aparecia na redação? Ele se apresentava? Como os profissionais regiam com a presença dele? Havia discussões com o censor?

            Como o leitor reagia vendo receitas culinárias no lugar da notícia censurada? Mandavam cartas pra redação, telefonavam, iam pessoalmente?

            Lembra-se de alguma música de protesto daquela época? O senhor tinha medo dos militares? Lembra-se do golpe de 64? Conhece alguém que foi preso, torturado, desapareceu ou foi morto?

Um abraço dos amigos

João, Yasmim e Gabriel
 










As respostas do  pessoal do Estação Memórias!!!









 
 
São Paulo, novembro de 2012

Queridos Daniel, Fátima, Meninas e Meninos...
Ficamos entusiasmados pelo interesse que vocês demonstraram pelas experiências vividas por nós e que vocês tomaram conhecimento pelos breves relatos enviados no nosso álbum de memórias. Nós ficamos surpresos pela rapidez nas respostas, pelos conteúdos das cartas, pela curiosidade em obter mais informações e detalhes sobre a nossa vivência na época da ditadura. Foi com muita satisfação que nos empenhamos em tentar esclarecer as dúvidas sobre as questões levantadas.
Primeiramente, gostaríamos de propor que as nossas cartas sejam endereçadas a todos, embora a maioria delas tenha sido escrita como resposta aos alunos que nos enviaram. É que as cartas encaminhadas a alguns de nossos colegas aqui da Estação não foram respondidas, porque eles não puderam participar das reuniões por motivo de saúde ou viagem. Dois ou três casos: o Edson, a Irma, a Mariangela... Espero que os meninos e meninas compreendam e entendam que quando lidamos com pessoas mais velhas esses imprevistos acontecem e que, sobretudo, não se sintam desconsiderados. Ao contrário, que tenham a certeza de terem sido incluídos em todas as cartas. É possível combinar assim? Então, uma das nossas intenções ao relatar nossas experiências de vida é sermos conhecidos como verdadeiros “livros vivos” que conversam com outros “livros” no intuito de ampliar, renovar e compartilhar o conhecimento acumulado pelos anos de experiência e reflexão sobre os acontecimentos do mundo.
Prometemos colaborar no futuro para o sucesso do diálogo entre a nossa  Estação Memória e vocês, da Escola Kazue Fuzinaka.


Foi muito importante contar com ouvidos amorosos e atentos de interlocutores tão jovens. Conhecer um pouco de tudo o que aconteceu pode servir para uma coisa: uma advertência para que a ditadura não se repita mais.



LIBERDADE!

Com o nosso abraço carinhoso,






Alberto, Ângela, Anna, Berenice, Cidda, Esther, Giovanni, Ivanise, Ivone, Lenita, Manoel, Maria da Penha, Maria Walkiria, Mariano, Marilene, Therezinha, Toninha, Zezé.
 


 





São Paulo, novembro de 2012

Caros jovens,
Tenho 85 anos, sou engenheiro civil, formado na Universidade Mackenzie/São Paulo, em 1952, portanto há 60 anos.
Trabalhei como superintendente e gerente em várias firmas internacionais e nacionais, por 20 anos, nas atividades de construção de residências, prédios, topografia, estrada de ferro, indústrias metalúrgicas, elétricas, têxteis, organização etc. Em 1965, eu trabalhava como gerente do planejamento de fabricação da Inal Brown Bovery, firma suisso-italiana, que se preparava para construir os 18 geradores elétricos da usina hidrelétrica de Itaipú. Depois do golpe militar, foi dado aos americanos construir a usina de Itaipú e as outras firmas então contratadas para tal, foram excluídas.
Eu fui demitido. Tive várias propostas para trabalhar em complexos industriais nacionais. Na minha análise, estas buscavam uma tábua de salvação para suas atividades. Não demorou muito, muitas fecharam suas atividades.
Desempregado, me senti “fora da caverna” (mito da caverna de Platão).
Experimentei pequenos empregos na forma de empreitada, com contratos de risco.
Posso dizer que me saí muito bem como consultor e empreendedor autônomo, tornando-me um homem feliz e liberto, sem precisar entrar em brigas corporais, somente usando a inteligência, o bom senso e a criatividade. Tornei-me sóciogerente de uma indústria têxtil. Pela reorganização e inovação, esta empresa tornou-se altamente rentável com produtos de alta qualidade. Sempre inovando.
Conclusão futurológica: uma nova ordem político-social deve acontecer no mundo. Todo ser humano deve receber estudos: humanitários, filosóficos, técnicos e serem amparados. É tarefa difícil, vai levar tempo, mas iria melhorar muito...
Alberto Siuffi


 
 









São Paulo, novembro de 2012

Queridos
 
 
Queria lhes falar que gostei muito de ver que vocês leram com atenção a minha carta sobre a época de ditadura. Isto é muito bom.
Vou tentar responder as suas perguntas:
Os papeis a que me referi, eram as atas e os documentos do Centro Acadêmico. Logo após o golpe de 1964, todos os centros ou diretórios acadêmicos foram visitados pelos militares e policiais. Daí, a importância e a pressa em resolver o que fazer com a papelada. Acabamos decidindo nos desfazer dos mesmos, e resolvemos em assembleia destruí-los e jogá-los no Rio Pinheiros. Depois do golpe, com a perda das garantias pessoais, qualquer pessoa podia facilmente ser acusada, perseguida. Portanto, todo cuidado era pouco...
Os festivais de música popular brasileira foram realizados alguns anos depois (de 1968, 1970…). Foi época de novas músicas, novos autores (Chico, Vandré, Gilberto Gil, Caetano Veloso etc), novos cantores (Elis Regina). As músicas eram encantadoras e eram um escape, uma visão fictícia de libertação.
Nessa época, eu tinha 20 anos e gostava de cinema, teatro, clube, bailes, diversões próprias da juventude da época e do meu universo cultural.
Aos 21 anos fiquei noiva, aos 24 casei. Trabalhava com planejamento da área social, com programas integrados de saúde, educação e promoção social. Neste trabalho, sabíamos de muitas arbitrariedades, comentários e histórias de pessoas que eram perseguidas, presas e torturadas.


Minha família ficava muito preocupada com os acontecimentos e nos avisavado perigo que corríamos. Mas éramos jovens e acreditávamos que conosco nada aconteceria.




Seria magnífico se pudéssemos nos encontrar pessoalmente e nos conhecermos melhor.

Beijos e muito carinho de

Ângela









 



São Paulo, novembro de 2012

Olá Roberta, Lucas e Heitor e todos os alunos
Com muito prazer respondo às perguntas que vocês me enviaram. A primeira delas é a respeito da minha viagem para o Brasil.
Cheguei aqui em 1950. Em 1945, a segunda guerra mundial tinha acabado, deixando uma Itália arrasada, vencida e um povo desiludido e sem trabalho.
Minha cidade –Messina- na região Sicília, por ser um porto estratégico, foi atingida e destruída pelos bombardeios aéreos e navais.
A situação no pós-guerra estava muito difícil: a reconstrução demorava e não tinha trabalho. Muitas famílias decidiram emigrar para outros países. Meu pai, através de amigos brasileiros, teve oferta de trabalho em São Paulo, naquele momento.
Assim, em 1949, ele partiu sozinho para ver de perto do que se tratava e ver a possibilidade de trazer a família, depois de um tempo.
De fato, em 1950, eu e minha irmã maior saímos do porto da cidade de Nápoles, viajando de navio por 18 dias.
Ainda me lembro da entrada no porto do Rio de Janeiro. Que deslumbre!
Parecia conto de fadas...
A chegada ao porto de Santos, também foi muito interessante e o contato com o calor, a vegetação e o cheiro picante de flores e aromas exóticos nos dava a certeza de que já estávamos num país tropical.
Minha irmã e eu achamos São Paulo um lugar acolhedor. Meu pai nos levava até o centro da cidade, que era muito lindo, com prédios que lembravam a Europa. O viaduto do Chá ligava as ruas chiques, a rua Barão de Itapetininga com a rua Direita, onde havia comércio de lojas francesas.
A impressão que meu pai teve do Brasil foi muito positiva. Ele achava que o país era dono de imensas riquezas, com grande futuro e muitas oportunidades de progresso.
Quanto ao período da ditadura no Brasil, no início ficamos preocupados. “Mais uma ditadura”, dizia a minha mãe! Mas com o passar do tempo, por sorte não tivemos nenhum amigo ou família perseguidos.


Comparando a ditadura e os 5 anos de guerra passados na Itália, a situação aqui no Brasil, na época, não nos deixou com medo.



Espero ter satisfeito curiosidade de vocês e, se quiserem saber mais a respeito, andem um e-mail para mim.
Um abraço da Anna


 





São Paulo, novembro de 2012




Bom dia queridos
Maria Eduarda, Vinícius e Rafael e todos os queridos alunos que nos escreveram
Gostei muito de receber sua carta.
Vamos conversar sobre um período que foi muito triste e difícil na política e na vida deste nosso Brasil.
Vocês perguntaram sobre torturas e realmente foram muitas e muito duras.
Tive amigos que foram seguidos e perseguidos, suas casas invadidas, seus livros queimados e levados para prisões do exército e da polícia, a chamada Operação Bandeirante.
Não ouvi falar não, de Dilma - mas tive um colega, que hoje é ministro da Dilma e do Lula -, pois as pessoas usavam pseudônimos (apelidos) para não serem identificados. Nos encontros estudantis sempre apareciam dedos-duros sim, agentes da própria polícia que se passavam por estudantes. Nessas reuniões estudávamos e líamos livros e textos que nos ensinavam como atacar e defender, no caso de luta armada contra o governo; também líamos livros proibidos sobre socialismo, comunismo, táticas de guerrilha urbana e pensamentos marxistas.
Na USP, havia muitos comícios relâmpagos e muitos alunos ficavam com medo sim; nas passeatas também. A polícia vinha com armas e os alunos se defendiam e também atacavam. 


Houve um grande confronto na Rua Maria Antonia, no centro de S. Paulo.



Nessa época, a faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas foi transferida para a Cidade Universitária, onde está até hoje. Dizíamos que era uma luta pela Esquerda e pela Direita.
Isso durou 20 anos, mas acabou.
Nenhuma Ditadura é boa, nem de Direita, nem de Esquerda.
Todos devemos ser livres, conscientes e cidadãos.
Um beijo grande
Berenice 7-XI-2012


 
São Paulo, novembro de 2012




Queridos da 4ª A e 4ª B
Esquecimentos acontecem. Às vezes uma página gruda na outra, e não percebemos. A sorte foi minha, pois ganhei correspondentes de duas classes.
Minha carta será as respostas ao questionário enviado.

1- Queremos saber qual a diferença entre as duas ditaduras: a do Getúlio e a Militar.
Getúlio Vargas era advogado e político. Foi o líder civil da revolução de 1930. Portanto, já temos uma grande diferença: golpe civil e golpe militar. O povo admirava Vargas, porque ele era “populista”, ou seja, promoveu várias benfeitorias.
Ele chegou a ser chamado o “pai dos pobres”. Talvez por isso ele foi eleito presidente em 1934 e em 1951.
Eu nasci em 1933, portanto era muito pequena naqueles anos e o que sei é de ouvir comentários de meus pais e o que li em livros. Que tal pesquisarmos juntos aquele período?
 
2- Conte alguma coisa que tenha acontecido com a senhora na época do Vargas.
Na segunda presidência do Getúlio, na década de 1950, tive uma experiência triste. Um primo de minha mãe, com a esposa, ambos sobreviventes da 2ª Guerra Mundial, gostariam de viver aqui no Brasil. Como a maioria dos sobreviventes dos campos de concentração, eles não tinham documentos. Por serem judeus, o governo do Getúlio não autorizou a entrada deles no Brasil. Sei que minha mãe e eu fomos até Santos, para vê-los. Fizemos de tudo para que eles ao menos descessem do navio, mas só conseguimos subir no navio para dar um abraço neles. Este navio também parou na Argentina e depois seguiu rumo ao Paraguai onde eles puderam descer e ficar por lá.


 
3- O que a senhora sentiu quando viu esses veículos cheios de soldados?




Medo, muito medo... Mas eles me deixaram passar, numa boa.
4- A senhora participava das passeatas contra a ditadura militar? Os soldados falavam alguma coisa com as pessoas que passavam?
Não, eu não participava das passeatas contra a ditadura militar. Em l964 eu já era casada e tinha 2 filhos para criar. Os soldados, lógico que falavam e agrediam as pessoas das passeatas, comícios, etc.
5- O que conversavam com a família sobre a Ditadura.
Falávamos pouco. Mas como vivíamos num ambiente onde muita coisa acontecia é óbvio que havia comentários. Amigos presos e que não retornavam.. O confronto entre alunos do Mackenzie e da USP, na Rua Maria Antonia, que vivenciei do terraço do meu apartamento, etc.... Fazíamos muita comparação do que era a Europa antes de eclodir a 2ª guerra.
 
6- Por ser judia, sofreu alguma coisa por parte dos militares?
Não. A ditadura militar não perseguia judeus, mas os comunistas. Na época da ditadura Vargas sim, sofri o que hoje vocês chamam de bullying. 







7- Sente saudades de algo daquela época?
Não sinto falta da ditadura, época de muitos medos. Mas sinto saudades de meus filhos pequenos e adolescentes, Da vida em família em geral.
8- Era tranquilo andar nas ruas?
 
Sim, era tranquilo andar nas ruas, dependendo de onde você estava ou em que cidade você morava.

9- O que falava para os filhos sobre os militares? Já teve que fugir de algo na época dos militares? 
 
No início eles eram pequenos e não entendiam muito o que estava acontecendo. Quando foram crescendo, eles participavam de nossas conversas sobre os fatos diários. Eles mesmos viam os policias nas ruas. Eles vivenciaram  prisões, etc. Pedíamos para que eles não participassem e que ficassem quietos, cada  um no seu canto.
 



 



10-Seus filhos sofriam preconceito por serem judeus?
Não, eles não sofriam preconceitos, pois a ditadura militar não era contra os judeus. Além do mais, eles estudavam numa escola judia. Vocês se lembram do filme O Ano em que meus pais saíram de férias? No bairro do Bom Retiro, havia uma escola judaica, reduto de comunistas, que era o alvo dos militares. Mas, não era esta a escola dos meus filhos.






11-Quantos anos tinha na época que começou a Ditadura?
No começo da Era Vargas, 1930, eu nem tinha nascido. Na ditadura dos militares, em 1964, eu tinha 31 anos.
Espero encontrá-los em breve, quando poderemos discutir com mais detalhes tudo o que for do interesse de todos.
Um abraço bem grande,
Esther








São Paulo, novembro de 2012




Caros Yasmin, João e Gabriel e alunos da 4ª. A e 4ª. B
Guardo na memória que quando eu tinha mais ou menos 15 anos, lá na Itália, aos sábados, éramos obrigados a aprender lutas e manobras como soldados, ao invés das aulas normais.
Praticávamos lutas com espingardas, com baionetas na ponta, mas sem ferir ninguém. Cada menino, conforme a idade, era  balilla ou balilla mosehittero (ou seja,  que podia usar espingarda), conforme o grau escolar. Havia uma espécie de hierarquia. Os adultos eram chamados de CAMICENERE ou FASCISTA.

Vivíamos sob regime DITATORIAL, já que tudo deveria ser obrigatoriamente obedecido. Nós, meninos, achávamos normal esta obrigatoriedade. Mas, na idade


adulta, percebemos que Benito Mussolini, ditador da época, manobrava a massa popular conforme sua política ditatorial. SURPREENDENTEMENTE, o povo italiano o admirava, mas as injustiças e os delitos políticos eram praticados às escondidas.
Aqui no Brasil, vivi sob censura escrita e falada. O regime militar era desumano e covarde. A censura era rigorosa em todos os cantos e nada podia ser contrariado, sob pena de prisão ou desaparecimento do envolvido.
Felizmente, isso acabou!
Um abraço
Giovanni.




 


São Paulo, novembro de 2012 
Meus queridos Pedro e Mateus e todos os alunos da 4ª. A e 4ª. B
Vinte anos de uma maldita ditadura que fez a desgraça de tantas famílias. Torturas, mortes, prisões, um período que parecia não ter fim.
E hoje, 20 anos depois da anistia, estou ouvindo que Barak Obama ganhou as  eleições. Fui dormir de madrugada torcendo por este homem guerreiro. Estou feliz.
Vou contar 3 fatos que vivi em 1975, entre milhares de injustiças. Entre tantos outros, conto esses:
1 – assassinato de Manoel, o operário.
2 – assassinato do nosso querido e inesquecível Vlado.
3 – invasão do Campus da Pontifícia Universidade Católica.
O crime de Manoel foi conscientizar o movimento operário, distribuindo nas fábricas o jornal  O Operário, editado pela JOC – Juventude Operária Católica. Ele era um senhor aposentado, cujo único crime era seu engajamento no movimento libertário. 

O jornalista Wladimir Herzog –o Vlado- foi preso e assassinado, torturado até a morte nos porões do Dops – Departamento da Ordem Política e Social. Os dirigentes do Dops garantiram que ele se suicidara na cela.O governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, ex-ministro da Indústria e Comércio do Presidente da República Ernesto Geisel, eleito pela ARENA (o partido político do governo, naquela época), ajudou muito nas investigações, pressionado pela Igreja e por toda a sociedade. Os movimentos estudantis, intelectuais,  sociólogos, filósofos a comunidade judaica, jornalistas, artistas mobilizaram-se para  esclarecer a verdade dos fatos.

A mobilização da sociedade começou nas missas do operário Manuel, na Igreja da Consolação, lotada por dentro e na Praça Rosevelt, cercada de policiais, e no ato ecumênico, celebrado para o Vlado, na Catedral da Sé. A praça ficou lotada. Era o povo misturado com os policiais. A invasão do Campus do PUC de S. Paulo, se deu sob comando do coronel Erasmo Dias. Foram efetuadas várias prisões.
Minha filha, que tinha 18 anos e estudava Psicologia, estava na faculdade na hora da invasão policial. Namorava um rapaz de Goiânia que era militante. Ele foi preso.  Sofremos muito com esse episódio. Depois disso, eu não tinha mais sossego. Fui junto com ela em várias reuniões do Centro Acadêmico. Eu só a deixava ir se eu fosse junto. Isso nem sempre era possível e às vezes ela ia sem me comunicar. Tinha muito medo. Como membro da Ação Católica, eu auxiliava a coordenadora da Comissão Nacional dos Bispos do Brasil - a CNBB. As nossas reuniões eram na igreja da Rua Caiubi ou nas casas dos membros da Ação Católica. Nessas reuniões, eu encontrava o frei Beto que fazia um trabalho com o frei Leonard Boff. Era o chamado movimento da Teologia da Libertação
Os jornais que líamos eram “Brasil Urgente” e “O Pasquim”, de Ziraldo,  Zózimo, Millôr Fernandes e Jaguar. Mas logo a polícia acabou com o jornal.
Incendiavam as bancas que tinham os folhetins.  

Foram anos de grande produção nas artes, Oiticica, Ligia Clark e tantos outros. No cinema Glauber Rocha, no teatro a grande contribuição de Augusto Boal e toda a sua equipe. Assisti a várias peças de teatro: “O Balcão”, “Cemitério de Automóveis” , e, em “Roda Viva”, que foi invadida pela polícia, em plena cena. Atores e público foram espancados e presos.

A ditadura apagou a imagem de Jango, o presidente em exercício quando aconteceu o golpe de 64. Uma grande injustiça. Ele teria morrido de ataque cardíaco ou teria sido envenenado?
Sobre Marighela e Lamarca, o que se soube é que Marighela foi assassinado numa emboscada no bairro dos Jardins, mais precisamente na Alameda Casa Branca, próximo à Rua Estados Unidos. Existe alí uma grande pedra que é o marco do local onde o corpo caiu. Seu crime: justiça social.
Na década de 1970, os meios de comunicação eram muito controlados. A ditadura  militar já havia estabelecido completamente a censura. Tudo era subversivo. O mercado cultural era restrito, e os órgãos do governo visavam mais o cinema e a música que tinham mais alcance popular. Os poetas estavam inseridos na contracultura. A ideia era ser contra o sistema.
A juventude não estava satisfeita com a situação do país, mas queriam ser felizes e buscar uma razão de ser no mundo. Buscavam isso por meio do sexo, drogas e

rock and roll.
Em tudo havia uma aproximação entre arte e vida. Em 1969, no show dos  Novos Baianos, Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Baby Consuelo, os integrantes da banda, cozinhavam no palco.

A chamada geração mimeógrafo mantinha diálogo com a Tropicália, expressa nas obras de Caetano, Gil, Tom Zé entre outros. Com a situação política em clima de guerra civil, os poetas buscavam a paz na vida simples que o movimento hippie pregava. Na época, a moda entre os jovens adeptos desse estilo de vida era ir para Arembepe, na Baia

Sofremos muito, também, para abrir caminhos para emancipação da mulher.
Mas isto já é uma outra história...

E, para terminar, uns versos da chamada poesia “marginal” da época da ditadura:
“eu sou como eu sou prenome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do possível
(…)
eu sou como sou presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim”
versos de “Cogito”, Torquato Neto
 
Vai ter uma festa
Que eu vou dançar
Até o sapato pedir para parar
Aí eu paro, tiro o sapato
E danço o resto da vida.
Chacal
 
Versos de “Rápido e Rasteiro”
Um beijo grande da
Ivanise
 




São Paulo, novembro de 2012
Meus jovens Felipe, Élvio e Júlio e queridos alunos
Fiquei muito feliz por saber que estão interessados nos assuntos que tratei na carta que também enviei a aos alunos do Colégio Termomecanica, com os quais tive um encontro breve, alegre, marcante e sincero. Vejo que surtiu efeito.
Vivenciei os anos de repressão (acho) sem ter tido sequelas. Esta época afetou quem se envolveu no esquema político e social vigente. A ditadura perseguia aqueles que enfrentavam o regime, e que eles chamavam de comunistas.
Nestes anos todos, minha família gerenciava uma fábrica de redes de algodão para embalar batatas, cebolas, bem como laranjas, limões etc. e fornecia o produto para os poucos supermercados existentes na época. O negócio ia de “vento em popa” e não havia o que lamentar financeiramente.
Quando ocorreu o golpe militar (março de 1964) havia um policiamento ostensivo nas ruas o que me deixava, por vezes, algo intimidada, porém sem sentir medo.
O trabalho dos censores era velado e não causava incômodo na redação da revista “Manchete”, onde eu atuava.
Em casa, na verdade, não era hábito discutir política. Todavia, os meus pais preocupavam-se com conversas que porventura eu mantivesse com amigos e colegas de trabalho.
O curso de Jornalismo incluía aulas de História, Geografia Humana, Filosofia, Publicidade, Literatura entre tantas outras e, naturalmente, Português. Alguns colegas e, mesmo professores, eram engajados na causa esquerdista e eu soube,  nos mais tarde, que foram exilados, torturados ou presos, mas não que tinham sido mortos. Policiais investindo contra alguém eu nunca presenciei jamais.

Na faculdade “Cásper Líbero”, subvencionada pela Fundação do jornal “A Gazeta”, havia (parece) liberdade para contestar, questionar, pensar, ler, ouvir músicas, mesmo as de protesto e tirar as próprias conclusões. Viver, enfim!
Ivone
São Paulo, novembro de 2012
Olá Larissa e Carina e todos os queridos jovens das turmas de 4ª.
Como é bom receber uma carta tão bem escrita, cheia de observações interessantes, com perguntas bem elaboradas. Parece mesmo o roteiro de uma época vivida.
Vamos às respostas!!!
Nos anos 1960, eu estudava em uma escola de irmãs dominicanas. Como a maioria das pessoas, elas também tinham receio de manifestações sociais e políticas que pudessem gerar qualquer tipo de desconfiança por parte do regime ditatorial.
Dedo-duro, entre nós jovens normalistas, nunca existiu. Estávamos muito mais preocupadas em nos diplomarmos como futuras professoras primárias.
No entanto, o bairro de Perdizes, onde os padres dominicanos tinham a igreja e o colégio, virou uma verdadeira trincheira de resistência à ditadura militar. Os padres começaram a apoiar o grupo guerrilheiro A.L.N. (ação libertadora nacional).
Lembro-me que vizinhos de uma tia minha foram lá pedir abrigo junto aos padres, por serem perseguidos pela polícia… nunca mais tivemos notícias. Provavelmente foram  presos, torturados… Que triste! Vergonhoso!!
Quanto aos festivais da canção, eram uma curtição! Chico, Caetano, Gil,  Mutantes, Vandré etc. eram nossos ídolos musicais. Não existia menina que não fosse apaixonada pelo Chico. Com seu jeito tímido, lindos olhos azuis, estudante de arquitetura, muito inteligente e capaz de compor músicas cheias de amor, protesto.
Ele enganava a feroz censura. Cantávamos todas suas músicas a plenos pulmões.
Quem sabe o nosso protesto inconsciente?

Quanto ao livro “Batismo de Sangue” não o li e não assisti ao filme também.
Assisti aos filmes “Zuzu Angel” e “O ano em que meus pais saíram de férias” que são
sobre o tema “Ditadura”. Gostei bastante.
Espero nos encontrarmos brevemente, pois a carta de vocês gerou em mim muita  admiração e vontade de conhecê-las pessoalmente.
Um beijão
Lenita

 

 
São Paulo, novembro de 2012

Caros Felipe, Antonio, Letícia e Carina e alunos queridos
Infelizmente, a senhora Sandra, a quem vocês endereçaram a carta, não tem participado de nossos encontros na Estação Memória, por motivo de força maior.
Bom para mim, que entrei há pouco no grupo e já tenho correspondentes tão interessantes e interessados! Assim, procurarei deixar a minha experiência do período ditatorial que ocorreu entre 1964 e 1985.
Dias antes de acontecer o 31 de março de 1964, houve em São Paulo uma marcha denominada “De Deus pela Família e Liberdade” que reuniu mais de um milhão de pessoas. A marcha saiu da Praça da República e terminou na Praça da Sé, no centro de São Paulo. Quando as primeiras pessoas chegaram ao marco zero, na Sé, ainda havia gente saindo da Praça da República. Na época, eu trabalhava como Sé, ainda havia gente saindo da Praça da República. Na época, eu trabalhava como repórter do “Diário Popular” e cobri o evento que, praticamente, determinou a queda do governo de João Goulart, então presidente da República. 

Com o golpe de 64, iniciou-se uma caça aos esquerdistas, pois a “Revolução” era de direita. Assim, não era aconselhável ler Marx e Engels.
As músicas de protesto mais cantadas eram as de Geraldo Vandré, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil. Nesta época, trabalhei no grupo jornalístico “O Estado de São Paulo”, onde as matérias censuradas eram substituídas por versos de “Os Lusíadas” de Camões. No “Jornal da Tarde”, o jornal vespertino do mesmo grupo, eram usadas receitas culinárias para as matérias censuradas. Essas receitas, claro, nem sempre davam certo...
Nas Faculdades de Direito e de Filosofia que cursei, os alunos eram vigiados por  “dedos duros”. Prevalecia a lei da delação (denúncia).

Como havia censura, a maioria do povo acreditava que o país ia “Pra Frente Brasil” e

a Copa do Mundo era nossa em definitivo.
A mensagem que posso lhes dar é que sem liberdade, sem democracia não há futuro
para qualquer país.
Abraços do Manoel Pereira do Vale Junior





São Paulo, novembro de 2012
 
Queridas Giovanna, Julia e Rafaella e especialmente a todos os alunos
Gostei muito de conhecê-las (pelas fotos). Vocês são lindas , inteligentes e alegres. Me fez lembrar meus alunos do Pré: gostava muito de dar aulas, pois além de iniciá-los na alfabetização e nos pequenos cálculos, tínhamos trabalhinhos de recorte e colagem, pintura, dramatizações, cantigas e até uma bandinha com triângulos, chocalho, pandeiro, flauta e tambor, atividade desenvolvida com a professora de música que tocava piano.
Lembrei-me agora de um versinho: 
Minhas mãos eu vou lavar
Meu lanchinho vou tomar
Comer tudo direitinho
Pra depois poder brincar.
Assim transcorriam as aulas.
Com respeito às coisas que aconteciam no tempo da Ditadura, eu não tinha conhecimento das perseguições, talvez porque nós não conhecíamos ninguém que estivesse envolvido. Aprendia as letras das músicas, sem saber que tinham duplo sentido, nem mesmo o alerta nelas contido.
Somente agora posso dizer que devemos estar sempre a par dos movimentos que surgem e ter a coragem de lutar pelo bem comum e do nosso país.
Maria Apparecida Lopes

 





São Paulo, novembro de 2012
 
Caros amiguinhos
Luiz Diego e Anna e todos os queridos alunos das 4as. séries
Eu não conheço a Escola que vocês frequentam, mas sei que está situada em São Bernardo do Campo, onde há muito boas escolas, como a da Fundação Salvador
Arena, que aos 93 anos de vida conheci e gostei muito.
Por que falar da ditadura que foi coisa do passado? Foi um mal necessário?
Só mesmo quem viveu antes pode avaliar.
Obrigado por trazer ao meu conhecimento coisas que eu ignorava, pois trabalhava de 14 a 16 horas por dia, naquela época. Minha vida caminhava normalmente como comerciante de frutas importadas no mercado central, da cidade de São Paulo.
Com muito amor de seu bisavô.
Beijos do
Mariano
 


São Paulo, novembro de 2012



(“Prepare o seu coração, Pras coisas que eu vou contar,
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão.…)


Letra da música Disparada, interpretada por
Jair Rodrigues


Olá João Felipe!
Oi Dienifer!
Olá a todos da turma!
Adorei receber uma cartinha de vocês. E é com muito prazer que escrevo sobre o tempo que vivi, ano de 1967, em São Paulo, capital.
Foi um tempo mágico esse: eu vinha de uma cidade do interior de São Paulo, Monte Alto, próximo a Ribeirão Preto, já ouviram falar? Monte Alto era muito provinciana, quer dizer, era cheia de regras sociais, que controlavam a vida da gente. Lá eu havia feito o 2º grau, o magistério.
Entusiasmada com a cidade grande, que eu procurei graças ao apoio de minha família que apostava na filha mais velha, a estudante esforçada tinha um sonho: vir para São Paulo cursar Letras na Universidade de São Paulo, para ser professora de Português, Francês e Italiano.
Na grande cidade, eu tinha medo de tudo. Conhecia São Paulo de viagens de férias e mantinha-me informada pelo jornal Folha de São Paulo do qual meu pai era assinante. Meu pai trabalhava como escrivão numa delegacia de polícia no interior. Aprovada na faculdade, após um ano de cursinho, meu pai se mudou para São Paulo com toda a família, depois de um tempo que eu estava aqui. Morávamos no bairro do Bom Retiro perto da tia Lúcia, irmã do meu pai. Nessa ocasião ele disse que nós não nascemos para viver separados. Ele era muito amoroso, filho de italianos.

Minha família também tinha medo da violência da cidade grande e meu pai vivia me assustando, principalmente quando tinha passeata e eu me sentia responsável como estudante e ia lá, geralmente no centro da cidade, correr da polícia, morrendo de medo. Aquilo era um sufoco!
Por que lutavam esses estudantes? Para que o estado de direito fosse respeitado. Era um pessoal muito generoso esses estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Rua Maria Antonia.
Quando aconteceu o confronto dos estudantes da Maria Antonia com os alunos do Mackenzie, não participei lutando, mas testemunhei o fato, da janela do Departamento de francês onde fazia um trabalho voluntário de organização do acervo da biblioteca, com minha amiga Ana Maria Fernandes. Os alunos do Mackenzie, naquela manhã do ano de 1967, estavam armados até os dentes e, do telhado do prédio do Mackenzie, atiravam nos estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
Vocês me perguntaram se conheci alguém morto pela repressão. Não, não conheci.
E vocês, novíssima geração, como sentem algo como a Ditadura militar que durou tanto tempo, 20 anos, e nos marcou a todos para sempre?
A biblioteca foi algo muito importante na minha vida de estudante e depois como professora. Nos primeiros tempos de estudante, a biblioteca foi importante pela ausência depois, aí, já em São Paulo, a biblioteca se tornou presença viva, estimulante, amiga generosa, acima do bem e do mal.
Quando nos encontrarmos vamos ter muito para conversar.
Um beijo
da Maria da Penha Cetira
São Paulo, novembro de 2012
Queridos jovenzinhos Élson, Kaio e Yasmim e todos os queridos alunos
É com grande prazer que respondo às perguntas de vocês. Perguntar é uma demonstração de curiosidade e um bom sinal. Quem pergunta, é porque quer saber mais sobre algum assunto. Então, vamos lá:
Deixamos de nos reunir no salão Paroquial, porque na ditadura era proibido fazer reuniões em lugares públicos. Poderia acontecer de sermos presos por desobediência ao governo.
Quando acabou a ditadura ficamos contentes e fomos para as ruas; o povo todo pedindo que se fizesse eleições para elegermos um governante escolhido por nós; enfim, que tivéssemos um regime democrático que teria um presidente escolhido pelo povo.
Infelizmente conhecemos pessoas que sofreram com a ditadura, sim. Nossa vizinha que estudava na P.U.C. ( Pontifícia Universidade Católica) foi presa e torturada pela polícia. Foi muito triste.
Quanto à orientação que dávamos aos nossos filhos, era no sentido de que eles não participassem de reuniões na escola ou no clube. Dizíamos a eles para que não tomassem partido, porque na verdade não tínhamos clareza da situação. Só sabíamos que havia uma luta pelo poder. Então, aconteceu a grande passeata pelas “Diretas Já”. E até hoje não conseguimos ter uma Democracia plena, mas vamos chegar lá!
Precisamos oferecer aos nossos jovens uma Educação de muita qualidade para alcançarmos nossos objetivos.
Beijos para vocês, meus amores
 
THEREZINHA

São Paulo, novembro de 2012
Queridos amiguinhos Giovana, Gabrielle e Elson e todos os alunos da classe
Estou respondendo à carta de vocês, no lugar da senhora Irma, porque, por motivo de força maior, ela não está frequentando a Estação Memória nos últimos meses.
Quero dizer que é um prazer muito grande entrar em contato com vocês através desta carta e me apresentar: meu nome é Walkiria.
Respondendo à pergunta a respeito da diferença entre a educação daquela época e a de hoje, meu depoimento é o seguinte:
Eu morava no interior de São Paulo, pertencia a uma família muito humilde, tinha seis irmãos. Quando eu tinha 12 anos e estava no 4º ano primário, meu pai faleceu e minha mãe ficou viúva com 7 filhos para criar. Eu parei de estudar e comecei a trabalhar para ajudar no sustento da família.
No período de 1964, quando estourou a chamada “Revolução”, pouco se sabia sobre o que acontecia nas grandes cidades naquela época, pois todos os meios de comunicação, tais como jornais, radio e televisão eram censurados e sufocados. As notícias apareciam nas entrelinhas. Sabia-se que algo estava acontecendo, mas não eu, porque não tinha alcance para entender exatamente o que era.
Assisti aos referidos festivais pela televisão Record e lembro-me de um deles, em que o Sergio Ricardo se apresentou para cantar e tocar violão. O público, porém, começou a vaiar e a gritar, impedindo que ele continuasse se apresentando.
Nesse momento, muito irritado, ele gritou, xingou, quebrou o violão e o atirou na plateia.
Eu tomei conhecimento das coisas que aconteceram naquela época da mesma forma que vocês, isto é, por meio dos livros, filmes e relatos posteriores.
Apesar de não possui parâmetros para comparar a educação daquela época com a de hoje, posso afirmar, com toda convicção, que hoje todos somos muito abençoados e privilegiados, independentemente da classe social, e temos acesso a uma educação muito superior à daquela época.
Digo isso porque eu voltei a estudar em 1975, quando já tinha 3 filhos. Fiz faculdade de Direito, sou advogada e hoje exerço minha profissão, em paz.
Casei-me em 1964, sou viúva desde 1993. Tenho 3 filhos, todos com faculdade, casados, que me deram 7 netos. E meu neto mais velho também já está na faculdade!!!
Um grande beijo a vocês, espero conhecê-los pessoalmente.
 
Maria Walkiria R. S. D’Azevedo.
 


 


São Paulo, novembro de 2012

Olá pessoal, tudo bem? Muito bom esse contato com vocês.
Na época da ditadura eu era jovem e estava estudando; depois me casei, tive meus filhos, tudo nesse espaço de tempo que durou o regime militar. Não havia militares na minha família.
Foi um período de insegurança e medo. Na época, meu marido trabalhava na TV Cultura que também sofria censura. Tanto é verdade, que aconteceu a prisão, tortura e morte do chefe de jornalismo da emissora, o jornalista Vladmir Herzog, seu colega de trabalho.
Essa censura estava nas artes em geral (música, cinema, teatro) e nos jornais e revistas... De fato, em tudo.
Apesar disso foi um período de grande florescimento cultural, principalmente
na música. Adorava Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano, Vandré, Edu Lobo e outros.
Mas realmente vivíamos com medo. Ouvíamos notícias de desaparecimento de pessoas, o exército estava nas ruas. Enfim, nenhuma saudade dessa época.
Beijos a todos
Marilene.

 
São Paulo, novembro de 2012
Queridos amigos Leonardo, Bruna Carelli, Giulia e todos das turmas de 4ª. série
Gostei muito de conhecê-los pela foto e também da cartinha que vocês me  enviaram. Vou tentar responder aos questionamentos feitos. O primeiro é sobre  minhas  lembranças do tempo de criança. Como não me lembrar da infância? Parece que quanto mais envelheço, mais esse tempo da minha vida se torna presente.
Mesmo que dele eu tenha recordações muito tristes, há também coisas boas para recordar: as brincadeiras com as colegas de colégio, os primeiros deslumbramentos com a alfabetização, com o aprendizado da escrita, com as primeiras leituras, os primeiros livros de história... Me lembro tão bem do livro “A chave do Tamanho” do Monteiro Lobato, que li vezes e vezes sem conta...Lembro-me das professoras, da peça de teatro em que representei a Cinderela, das aulas de música, das procissões  da Semana Santa, das festas juninas, entre tantos outros eventos...
Como eu disse na carta anterior, tendo perdido minha mãe aos dois anos de idade, passei dez anos interna num colégio, onde não tinha muitas informações sobre política, nem acesso a jornais, ou notícias de rádio. Embora eu fosse boa aluna, o ensino era muito fraco, com uma programação desvinculada dos acontecimentos e interesses do momento. Então, mesmo vivendo sob a ditadura de Getúlio Vargas, só fui saber detalhes sobre seu governo quando a notícia de sua morte motivou o choro de muitas freiras e funcionárias da instituição. 
o período da ditadura militar tenho mais lembranças, pois em 1964 eu já morava com meus tios, depois da morte do meu pai, e acompanhava as notícias pelos meios de comunicação. Mas, no início, em plena efervescência da juventude, meus interesses não se focavam muito em política. Só quando fiz cursinho para o vestibular é que me interessei mais pela História, pelos acontecimentos que repercutiam diretamente na vida de todos, principalmente devido ao cerceamento das liberdades individuais... Os professores mais politizados descobriam jeitos de mostrar outra versão das informações, que não as manipuladas pelo governo. Mas eles corriam riscos de serem denunciados e presos. Felizmente, nenhum de meus amigos mais chegados teve problemas mais sérios com a polícia.
Quando eu lecionava em escolas públicas, sentia um grande controle por parte de diretores que, por sua vez, obedeciam a orientações da Secretaria de Educação.
Temiam-se infiltrações de pessoas que tivessem vínculos com a polícia e “dedurassem” qualquer descumprimento de ordens. As aulas de Educação Moral e Cívica deviam propagar as ideias do governo e incentivar um patriotismo forçado, nas muitas comemorações de datas cívicas. Éramos orientados a não trazer livros “comprometedores” para a escola, que tivessem qualquer tendência considerada de “esquerda” e a não formar agrupamentos de debates ou quaisquer manifestações de opiniões.
Desse tempo, que coincidiu com os festivais de música popular brasileira e grandes sucessos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Elis Regina, entre outros, a música que mais me mobilizava e emocionava pelo apelo de esperança e crença em mudanças e da qual gosto até hoje é a do Geraldo Vandré – Porta Estandarte – que diz:


Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim / Desce o teu rancho
cantando essa tua esperança sem fim / Deixa que a tua certeza se faça do

povo a canção / Pra que teu povo cantando teu canto ele não seja em vão //
Eu vou levando a minha vida enfim / Cantando e canto sim / E não cantava se
não fosse assim / Levando pra quem me ouvir / Certezas e esperanças pra
trocar / Por dores e tristezas que bem sei / Um dia ainda vão findar / Um dia
que vem vindo /E que eu vivo pra cantar / Na Avenida girando, estandarte na
mão pra anunciar...




Um grande abraço pra vocês.
Toninha

 
 

 


São Paulo, novembro de 2012

Queridas amigas Bruna, Rayssa, Gabriela e Loyanne e queridos alunos das classes de 4ª. série
Fiquei muito feliz ao receber sua cartinha! E quero dar parabéns a vocês pelo empenho e envolvimento com a questão da ditadura!
Quanto às perguntas que me fizeram, posso informar alguns dados.
Meus parentes tiveram que se exilar do Brasil, por “pressão” feita pelos militares e policiais, que os ameaçava por telefone: - ou eles se “entregavam” ou então, que saíssem do Brasil!
O casal resolveu então, ia para o Chile; a princípio seus dois filhos pequenos ficaram no Brasil.
Como isso aconteceu no mês de Julho, eles ficaram num “Acampamento de férias”, enquanto os pais foram se acomodando no novo país, com a ajuda de outros companheiros que lá já estavam também exilados.
As crianças sabiam que os pais estavam viajando e após as férias, seus avós os encaminharam para junto deles.
Lá não foi fácil, porque logo “estourou” também no Chile, a crise da ditadura e todas as pessoas exiladas tiveram que sair do país às pressas; até suas casas foram invadidas pelos policiais.
A salvação nesse momento foi a “CRUZ VERMELHA” – uma instituição de caráter assistencial/mundial – que pôde transferi-los e acomodá-los na França.
Meus parentes conseguiram então, ter mais tranquilidade e lá viveram durante vários anos. Quando surgiu no Brasil a “LEI DA ANISTIA”, todas as famílias exiladas puderam voltar para a sua pátria.
Durante o período do exílio, eles mandavam-nos cartas contando de sua vida rotineira e das crianças, nunca mencionavam algum fato político e suas correspondências chegavam sempre sem a assinatura, como também sem o nome do  “Remetente” no envelope.
Quando voltaram ao Brasil, os filhos já eram adolescentes e todos estavam felizes com o retorno; pouca coisa quiseram nos contar sobre aqueles momentos por eles vividos.
Hoje, depois de tantos anos ocorridos, lembro-me que nós também aqui no Brasil, sofríamos e nos preocupávamos por eles.
A vocês, meus queridos amigos,
Um grande abraço da Zezé.
07/11/2012
 

 





 
 










 

 

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